VoltarDiscurso da presidente da UNICA, Elizabeth Farina, por ocasião da abertura do Ethanol Summit 2013
Caros empresários e produtores do setor, destacando os presidentes de todas as associações de produtores aqui presentes,
Prezados fornecedores de cana, empresários de bens de capitais e demais agentes da cadeia sucroenergética, parceiros fundamentais para o desenvolvimento de nossa atividade,
Caríssimos associados e Conselheiros da UNICA,
Senhoras e senhores,
É com enorme satisfação que iniciamos hoje a quarta edição do Ethanol Summit, evento que já se tornou uma das mais importantes referências mundiais para debater os rumos do etanol e das energias renováveis.
Da mesma forma que nas versões anteriores, esperamos proporcionar um fórum de discussões e convívio produtivos para aqueles que se dedicam a este biocombustível, que tem exercido papel fundamental no atendimento a uma demanda crescente por energia limpa e renovável.
Esperamos dois dias de debates, onde serão discutidos os mais importantes temas para o futuro do etanol. Chamo a atenção para quatro desses temas:
Primeiro: os destinos dos carros flex, inovação tecnológica que há dez anos vem dando aos consumidores brasileiros o poder de comandar o maior programa de substituição de combustíveis fósseis por renováveis do planeta;
Segundo: as perspectivas da produção do etanol celulósico em escala comercial e os novos usos e produtos que vem da cana de açúcar, cujo leque torna-se cada vez mais amplo, abrangendo desde os bioplásticos à química fina, resinas especiais, embalagens e querosene para a aviação. Todos em linha com a chamada economia de baixo carbono, um dos grandes desafios deste século;
Terceiro: a cooperação entre os países consumidores e produtores, a mais eficiente forma de avançarmos em uma agenda global para a consolidação do etanol como uma commodity internacional;
- Finalmente: as questões de natureza regulatória, que definem as regras do jogo, condição fundamental para garantir e orientar investimentos na atividade.
Estas são peças essenciais para o desenvolvimento sustentado do setor nos próximos anos.
Quando pensamos no cenário de 2020, portanto daqui a sete anos, é possível enxergar, de um lado, uma oportunidade ímpar de mercado e, de outro, importantes desafios e responsabilidades para o setor.
Sete anos pode parecer um curto espaço de tempo quando constatamos que representa pouco mais do que um ciclo de produção da cana de açúcar.
Parece pouco também quando sabemos que é o tempo necessário entre a tomada de decisão de um investimento em uma nova unidade industrial e a sua plena maturação.
Mas, senhores e senhoras, posso lhes garantir que não é pouco tempo para almejarmos até mesmo uma nova revolução tecnológica e de mercado, para um setor tão dinâmico como o nosso.
Basta olharmos um pouco para trás e visualizarmos dois momentos deste setor, nos dois últimos ciclos de sete anos:
Há quatorze anos, nos idos de 1999, o ambiente não poderia ser pior. O setor vivia uma das mais profundas crises da sua história, com preços do etanol despencando, sem quaisquer perspectivas de retomada do etanol como um combustível alternativo no país.
Mal sabíamos que a crise daquele momento criaria as bases para um setor muito mais competitivo, orientado por regras de mercado
De fato, sete anos depois, às vésperas do primeiro Ethanol Summit, o humor era diametralmente oposto.
Os carros flex já eram uma realidade absoluta nas ruas brasileiras, e já representavam quase 90% das vendas de veículos leves no País.
Ao mesmo tempo, o programa dos Estados Unidos de combustíveis renováveis acenava com uma demanda sem precedentes na história.
Diversos países consideravam o uso do etanol como uma das mais viáveis alternativas para combater o aquecimento global e aumentar a segurança energética.
Naquele momento, mais de 100 novas usinas iniciavam suas operações ou se encontravam em gestação. O setor vivia plena euforia.
Mais sete anos se passaram, e o Brasil e o mundo apresentam hoje uma nova realidade, com base na qual eu gostaria de tecer algumas considerações sobre os caminhos da nossa atividade até o final desta década.
Do ponto de vista das perspectivas para os principais produtos do setor, é evidente o formidável potencial dos mercados doméstico e internacional de açúcar e de etanol, além da geração de bioeletrecidade.
Internamente temos uma frota superior a 20 milhões de veículos flex que cresce continuamente.
Atualmente apenas um terço desses veículos utiliza etanol hidratado. Existe, portanto, um enorme potencial a ser ocupado.
Apenas para dar uma ideia da pujança desse mercado, no último ano, enquanto o PIB cresceu menos de 1%, o crescimento do consumo de combustíveis leves no Brasil atingiu quase 8%.
Até 2020, espera-se um crescimento neste consumo da ordem de 50%, volume que terá que ser atendido, em boa medida, pelo aumento da oferta de etanol se não quisermos que seja abastecido por gasolina importada.
Isso sem contar as oportunidades para o etanol brasileiro no mercado internacional, diante dos programas de biocombustíveis em várias regiões do planeta.
Destaco que o Brasil é, sem dúvida, uma das principais regiões com escala para ampliar a produção de forma significativa e sustentável.
Sabemos, no entanto, que ainda existem muitos desafios e o ambiente regulatório exerce um importante papel na garantia da competitividade dos biocombustíveis frente aos combustíveis fósseis.
Trata-se de um dos mais ilustrativos exemplos de produto cujos atributos ambientais, sociais e de saúde pública não são incorporados aos preços de mercado, gerando nível de investimento abaixo do socialmente desejável.
Ao mesmo tempo, o Brasil gerou incentivos ao consumo de gasolina, um dos mais ilustrativos exemplos de fonte geradora de poluição e gases de efeito estufa que também não estão computados em seu preço de venda de mercado, permitindo um nível de investimento acima do socialmente desejável.
É nesse aspecto que a política pública deve se concentrar. Nos próximos anos, as nações terão de enfrentar o dilema da segurança energética de forma sustentável, reconhecendo as externalidades positivas dos combustíveis limpos e renováveis, com incentivos na direção correta.
A menor alíquota de ICMS sobre o etanol hidratado, com destaque para o caso de São Paulo onde a o etanol paga menos da metade do imposto cobrado pela gasolina, e a recente desoneração do Pis/Cofins sobre o etanol são bons exemplos de iniciativas nessa linha.
Mas é importante reconhecer que o setor produtivo também tem o seu papel e reconhecemos as nossas responsabilidades.
Nos últimos 10 anos praticamente dobramos a oferta de cana-de-açúcar no Brasil, investimos em novas unidades e em mecanização, implementamos melhores práticas sociais e ambientais e observamos uma alteração profunda no processo de governança das empresas deste setor.
Mais recentemente, apesar de não haver nenhum novo projeto para a construção de novas unidades, não paramos de investir.
Existe um volume considerável de investimentos e iniciativas em curso centrados na ampliação dos ganhos de eficiência na produção, comercialização e transporte do etanol e do açúcar, na co-geração de energia, e no desenvolvimento de outros produtos a partir da cana-de-açúcar.
Nessa linha, destacam-se:
• a ampla renovação dos canaviais observada nas últimas duas safras...
• o acelerado processo de mecanização da colheita da cana, que deve atingir quase 90% da área plantada já nesta safra no Estado de São Paulo...
• o redesenho do maior centro brasileiro dedicado exclusivamente à pesquisa de cana-de-açúcar – o CTC...
• a iniciativa do etanol duto...
• as ampliações de terminais portuários...
• e a construção de novos ramais ferroviários, entre outros
Tenho certeza de que essas iniciativas trarão resultados surpreendentes nos próximos anos.
Estamos convencidos de que precisamos avançar no campo das inovações tecnológicas, a exemplo da produção em larga escala do etanol celulósico, do aperfeiçoamento dos motores flex e dos ganhos de produtividade agrícola e industrial.
Há dias, vivenciamos no País inúmeras manifestações populares, clamando por mudanças estruturais na economia. O momento é propício para reflexão e ações.
Hoje, certamente o setor sucroenergético está entre os mais importantes da economia brasileira, com faturamento superior a 36 bilhões de dólares, geração de divisas da ordem de 16 bilhões de dólares e mais de 1 milhão de empregos em cerca de 20% dos municípios brasileiros.
Este setor pode ser, seguramente, um dos mais importantes vetores desta virada, desde que os incentivos corretos estejam presentes.
Também é fundamental que os preços de mercado não sejam distorcidos, na direção contrária do indicado pelas externalidades positivas do etanol quando comparadas às externalidades negativas da gasolina.
Concluo agradecendo a todas as empresas e entidades que apoiaram a realização deste evento como patrocinadores, nomeadamente a FMC, Basf, Grupo Case, Granbio, Syngenta, BNDES e Petrobras.
Reitero as boas-vindas aos participantes deste evento que, espero, seja extremamente proveitoso a todos!
Declaro aberto o Ethanol Summit 2013!